Os textos que falam sobre a maternidade, em geral, são poéticos e mostram o lado lúdico desta nobre função. Muitas mães até se sentem constrangidas, pois a vida real com um novo bebê em casa nem sempre é só de momentos felizes. Há também apreensão, dúvidas, chateação e cansaço.... muito cansaço.
No texto a seguir, escrito por Claudia Gomes, na página "Humor de Mãe", ela faz as mães reais se sentirem incluídas na delícia e na dor de ser mãe.
Boa leitura!
Versão bem humorada da "saga" de ser mãe
- Amor, o que você quer de presente?
- Dormir.
- Oi?!
- Sim. Dormir. Quero babar, roncar e sonhar. Tô com saudade até de ter
pesadelo! De preferência, sem criança me dando joelhada na testa no meio da
noite, ou me acordando aos prantos, como se a Adele tivesse morrido e
reencarnado num gato rouco que engoliu um megafone.
- É só isso que você quer de dia das mães?
- E também de aniversário, Natal, Páscoa, Ano Novo ocidental, chinês e judaico
e dia do amigo.
- Mas isso não vende em shopping!
- Tem certeza? Leva as crianças, procura bem, em todas as lojas da cidade.
Assim eu aproveito e tiro uma boa soneca. De uns dois dias seguidos. Me acorda
no almoço de domingo.
Essa cena não aconteceu comigo. Não exatamente assim. Mas poderia.
Porque de todas as dificuldades que tive na maternidade, para mim a pior parte,
disparado, foi o sono. Ou melhor, a falta dele. Me arrepio inteira só de
lembrar quando minha vida parecia uma propaganda das Casas Bahia. De dia,
dedicação total a você. E à noite, em dez vezes sem juros. Vivia em um
relacionamento sério com a babá eletrônica. Era um personagem de desenho
animado ambulante, com palitinhos de fósforo imaginários nos olhos. Andava
pelas ruas correndo o risco de levar um tiro no meio das fuças, confundida com
uma figurante do Walking Dead.
Sem sono não há bom humor, saúde, nem sanidade mental. Ficar sem
dormir por dias, meses, talvez até anos (meu caso), tinha que servir como atenuante
para crimes bárbaros, como mamar uma lata de leite condensado numa talagada só.
O trânsito deveria se abrir à sua frente, como um Mar Vermelho. Chefes deviam
dar aumento, lojistas tinham que oferecer descontos, vizinhos num raio de cinco
quilômetros tinham que ficar um ano sem dar festas e as contas tinham que se
pagar sozinhas. Para o bem geral da nação, acho que toda mãe nessa fase devia
andar com uma camiseta com os dizeres: “Concorde com tudo que eu disser, estou
sem dormir há meses.”
Mesmo quando os filhos já não são mais bebês (meu caso), tenho a
impressão de que rola uma Mega Sena acumulada do sono. Talvez pela soma de
todas as noites em claro. Talvez porque o dia a dia seja muito cansativo.
Acorda seis da manhã pra levar na escola aqui, separa briga acolá, dá uns
berros, dá banho, dá lanche, cata as mil micro peças da Polly no chão... (um
beijo na mãe do sujeito que criou isso!). A função não para nunca! Não importa
o quanto eu durma, sinto que tô sempre no cheque especial. Pra pagar essa dívida,
só espetando o dedo numa roca e dormindo por cem anos. E, mesmo assim, se
viesse um príncipe me acordar, é provável que tomasse uma bifa. Só mais cinco
minutinhos!!!
Depois que a gente tem filho, o sono também não é mais aquele
original, de fábrica. É um sono meio ching ling. Você até dorme. Mas é com um
olho só. O outro está sempre meio aberto, para o caso de um pesadelo, alguém
cair da cama, ser atacado pelo mosquito da zyka ou chegar tarde da balada. Não
importa. A sensação é que depois que somos mães, o cérebro nunca mais desliga.
Até sozinha em casa eu já levantei correndo no meio da noite, chutando a quina
da cama, porque jurava ter ouvido o bebê chorar. E eu nem tinha mais bebê.
Atire o primeiro travesseiro a amiga-mãe-caminhoneira que nunca foi até o berço
de madrugada, só pra ver se o filho estava respirando.
Diante disso, nesse domingo, só posso desejar a todas que durmam.
Durmam muito, durmam bem. O sono das justas. O sono daquelas que são capazes de
passar noites e noites inteiras cochilando sentadas, só pro filho não tossir. O
sono prêmio, relaxado, da sensação de dever cumprido, porque você dá a eles
diariamente aquilo que tem de melhor. Inclusive suas noites bem dormidas. Se
não conseguir agora, desejo que seja em breve. Porque essa fase zumbi uma hora
vai passar. E quem é que precisa voltar a sonhar? Se o seu maior sonho tá ali,
realizado, dormindo bem pertinho de você?
Um beijo carinhoso nas olheiras de panda de cada uma. E feliz dia das mães!
Um beijo carinhoso nas olheiras de panda de cada uma. E feliz dia das mães!
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