Além de receber orientação sobre amamentação, as alunas do Curso Parto Amoroso CEMUC são estimuladas a doar o leite excedente. Desde o ano 2000 esta prática já totalizou mais de 40.000 litros de leite materno para o Banco de Leite do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, salvando a vida de milhares de bebês nas UTIs Neonatal de Curitiba e Região Metropolitana.
Mesmo com todo este volume, a demanda é muito grande. Além disso, as dificuldades com transporte, armazenamento, higiene e desperdício são ainda maiores. Pensando em minimizá-las, pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá - PR, criaram um projeto para transformar o leite materno em leite em pó. Este projeto de pesquisa foi um dos selecionados na sétima edição do Edital da Fundação Cargill (“Projeto Leite Humano em Pó: processamento, controle de qualidade e aleitamento materno”) e já está recebendo apoio financeiro para ser desenvolvido.
Não se sabe quando teremos esta tecnologia disponível, mas uma coisa é certa: a matéria prima será sempre o leite materno. Por isso nos orgulhamos em orientar e estimular as alunas do Curso Parto Amoroso através de aulas presenciais, online e lives para que amentem seus bebês e doem o excedente aos Bancos de Leite Humanos.
A seguir reproduzimos o texto publicado em https://fundacaocargill.org.br/projeto-leite-humano-em-po/
Rosane Silva dá uma aula show sobre amamentação e doação de leite
No espaço lúdico do Museu da Vida, o aprendizado é muito maior
Qual a importância do leite materno para o bebê?
O leite materno é a melhor fonte de nutrição para o bebê e a maneira mais econômica e eficiente de diminuir as taxas de mortalidade infantil.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o aleitamento materno reduz em até 13% as mortes de crianças até os cinco anos.
Além disso, o consumo do leite materno evita o desenvolvimento de doenças respiratórias, alergias, infecções, hipertensão, diabetes, colesterol alto e obesidade.
Dentre os principais benefícios do aleitamento materno estão o aporte de nutrientes e anticorpos transmitidos da mãe para o bebê, o que fortalece seu sistema imunológico.
O Ministério da Saúde recomenda amamentação exclusiva até os seis meses de vida e complementar até os 2 anos ou mais.
O fato é que muitas mulheres não podem amamentar. A falta de condições adequadas de saúde, como a presença do vírus HIV, tratamento quimioterápico, ou até mesmo a inexistência de orientação e acompanhamento corretos, são algumas razões para o aleitamento não acontecer no período adequado.
Com o intuito de promover, apoiar e proteger o aleitamento materno e coletar e distribuir leite humano de qualidade, o Ministério da Saúde em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz criou, em 1998, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH- BR).
Em 1999, as médicas Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança e Elisa Checchia Noronha, fundadora do Curso Parto Amoroso, criaram o Curso Mamãe eu Quero Mamar para estimular a doação de leite humano, que foi direcionada para o Banco de Leite do Hospital Evangélico de Curitiba (hoje Hospital Universitário Evangélico Mackenzie). A orientadora deste curso era a Enfermeira Rosane Silva que, desde então é a professora titular sobre amamentação do Curso Parto Amoroso. Rosane coordenou o Banco de Leite do Evangélico durante 20 anos e é conhecida como "Rosane Leite".
Atualmente, os Bancos de Leites Humanos (BLH) somam 222 unidades e 217 postos de coleta espalhados por todos os estados brasileiros.
A rBLH-BR foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo.
Entretanto, quase metade dos bebês brasileiros que precisam do leite materno doado, ainda não conseguem ter acesso a ele.
A falta de doadoras e o desperdício de leite humano contribuem para este triste cenário.
Os BLH necessitam de doações de leite humano de mães que sejam saudáveis, não tomem medicamentos que possam interferir na amamentação, produzam leite além das necessidades do seu filho e que se disponibilizem a ordenhar, armazenar e entregar o leite congelado em um dos pontos de coleta espalhados pelo Brasil (algumas unidades dos BLH possuem sistema de coleta domiciliar).
Todo este processo exige muito cuidado que envolve medidas de higiene da mãe, esterilização do recipiente a ser utilizado e armazenamento em freezer ou congelador.
O produto não pode ser levado a um banco que esteja a mais de 6 horas de distância da doadora, pois o leite não pode descongelar no caminho.
Além disso, as doadoras costumam coletar e armazenar o leite em potes de vidro que utilizam em casa, como embalagens vazias de maionese, geleia ou café solúvel. Durante o transporte, os potes correm o risco de quebrar, desperdiçando, assim, todo o material coletado.
Ao chegar no BLH o leite é submetido a um processo que envolve análise, classificação, pasteurização e controle de qualidade. De acordo com a necessidade, o leite congelado é encaminhado para atender cada recém-nascido internado.
O processo de conservação gera muito desperdício, pois uma vez descongelado, todo o volume contido no recipiente precisa ser utilizado dentro do prazo de 24 horas, não podendo ser congelado novamente.
Desta forma, se um frasco de 250 mililitros, por exemplo, é enviado para uma UTI neonatal para atender um bebê que consome em média 20 mililitros por dia, o restante do líquido deverá ser desprezado.
Portanto, além de poder gerar desperdício, o leite humano exige grande estrutura para armazenamento e conservação, uma vez que precisa ser mantido sob refrigeração.
Como surgiu o Projeto Leite Humano em Pó?
Em 2019, os professores da Universidade Estadual de Maringá, Jessuí Vergilio Visentainer e Oscar de Oliveira Santos Junior, em contato com o BLH que fica dentro do hospital universitário, acompanharam as dificuldades com a conservação e estocagem de leite materno.
Foi então que surgiu a ideia de testar um processo de liofilização (processo de “secagem” de um determinado produto, removendo toda a água dele para transformá-lo em outra forma de consumo).
Como ocorre o Processo de Liofilização?
Na liofilização, o produto congelado é colocado em um equipamento que diminui rapidamente ainda mais a sua temperatura.
Com isso, a pressão sobe e toda a água presente no leite (aproximadamente 90%) passa do estado sólido para o gasoso. É o chamado processo de sublimação.
Desta forma, resta apenas a “farinha” do leite que são os componentes nutricionais, o que chamamos de leite em pó.
O leite em pó gerado neste processo tem um volume menor que o leite líquido e não necessita ser conservado sob refrigeração, o que facilita muito seu armazenamento.
Para preparar o leite e servi-lo ao recém-nascido, adicionar ao pó água morna filtrada. Exatamente o mesmo processo que se faz para preparar o leite a partir das fórmulas infantis vendidas nos mercados.
Desta maneira, além de prático, o processo evita o desperdício já que pode ser utilizada somente a quantidade de pó necessária para a demanda do momento.
Além disso, ao que tudo indica o processo de pesquisa dos professores, o leite em pó terá uma durabilidade maior do que o leite congelado.
Os professores seguem em pesquisa para comprovar a viabilidade de execução desta técnica em grande escala, sem a perda de nutrientes do leite materno.
O projeto de pesquisa foi um dos selecionados na sétima edição do Edital da Fundação Cargill (“Projeto Leite Humano em Pó: processamento, controle de qualidade e aleitamento materno”) e já está recebendo apoio financeiro para ser desenvolvido.
“O projeto beneficiará bebês atendidos pelo banco de leite de Maringá, profissionais da rede brasileira de bancos de leite humano, mães e gestantes”, explica Oscar de Oliveira Santos Junior, coordenador do Projeto.